Por Higor Maffei Bellini
Os treinadores de futebol têm nos últimos anos ganho uma importância desproporcional à sua função, que é apenas a de ministrar os treinos táticos e técnicos, e dirigir a equipe durante a disputa uma partida. Os mesmos estão fazendo exigências que acabam por invadir até mesmo a esfera administrativas, exigência de contratação de profissionais de backoffice, instalação de novos departamentos e equipamentos dentro da estrutura do futebol, chegando até mesmo ao absurdo de decidir quem, dentro da estrutura da equipe, pode ou não acompanhar o seus treino, sob “pena” de não aceitarem propostas de trabalho, ou mesmo, pedindo a rescisão do seu contrato de trabalho.
Alguns exemplos destas exigências publicados na mídia: “Sampaoli se reúne com o presidente do Santos, faz exigências e se distancia do clube” (https://globoesporte.globo.com/sp/santos-e-regiao/futebol/times/santos/noticia/sampaoli-se-reune-com-o-presidente-do-santos-faz-exigencias-e-se-distancia-do-clube.ghtml ) - 09/12/2019:
O técnico Jorge Sampaoli ficou mais distante do Santos após reunião na manhã desta segunda-feira com o presidente do clube, José Carlos Peres. O argentino exigiu forte investimento em contratações e o fim dos jogos no Pacaembu para permanecer na Vila Belmiro em 2020”.
Heinze está com moral na torcida do Palmeiras, mas exigência pode travar negociação (https://esportes.yahoo.com/noticias/torcida-do-palmeiras-influencia-bastante-por-heinze-no-palmeiras-173555969.html?guccounter=1&guce_referrer=aHR0cHM6Ly93d3cuZ29vZ2xlLmNvbS8&guce_referrer_sig=AQAAABu5cpLBM2FmUxyV0A2jyD-7dE09BiJmBDkyjtHUpTXNujOf-1-lm4QSY0EI2idSHcI4-B5tRtmh-kUDW_EXCkGj_0BdsGPyOdw0Aw4eMzZXO7fcTZANjyLLPMHeDezHcE-O4My2Hd00rir3I4ykMy_6ZGC2p24xY9T-_u3T9Oj9) - 24 de out. de 2020
Heinze foi procurado pelo Palmeiras, mas impôs uma exigência que pode atrapalhar um acerto. Heinze quer a “Academia de Futebol” respirando apenas futebol, sem a presença de conselheiros, diretores e parceiros, fora do dia a dia interno dos treinamentos e sem nenhuma interferência no ambiente e na relação com o grupo. Essa solicitação não foi bem aceita pela maioria da cúpula e isso pode travar as conversas”.
Estes são apenas alguns exemplos de exigências feitas por técnicos de futebol para aceitarem propostas de trabalho ou para manterem os seus contratos e/ou para renová-los para mais outro período.
Um técnico pode exigir estas providências?
Eu mesmo respondo: NÃO, claro que não!
Na atual realidade dos departamentos de futebol, seja em times do Brasil, ou mesmo em Portugal, os técnicos estão na base da pirâmide organizacional, tanto é que são os primeiros a serem demitidos quando a campanha da equipe não vai como o esperado. Ou alguém que está lendo este texto se lembra de um gerente, diretor ou CEO demitido quando a equipe não traz o resultado esperado? Deixem os seus comentários se vocês lembram para que eu tenha esta informação.
Uma vez que o trabalho no departamento não está sendo bem executado segundo os critérios estabelecidos pelo CLUBE, ou pela SAD, quem deveria ser demitido em primeiro lugar é o diretor de futebol, ou o CEO, a depender da estrutura, posto que este não está sabendo liderar o departamento de futebol, mas sobre isso trataremos melhor ao final desta temporada no Brasil.
Por estar na base da pirâmide e ser o primeiro, para não dizer o único a ser demitido, o técnico de futebol não tem o poder de exigir nada para ser contratado, este deve aceitar o que lhe é proposto em termos de estrutura e de organização de departamento ou recusar a proposta. Podendo sim discutir o seu salário, a sua moradia e quem a custeará - até porque se for o clube isso será considerado como parte do salário - se há perceptiva de contratação de jogadores, ou de negociações para outros clubes daqueles que estão no elenco antes de sua chegada, para saber como será a sua realidade de trabalho.
Esta possibilidade de um subalterno, o técnico, exigir medidas administrativas para aceitar uma proposta de trabalho ou renovar seu contrato, tais como: impedir a entrada de conselheiros e diretores de um clube (que são seus superiores, já que ele é – ou será – funcionário do clube), ou então dizer que não deseja jogar em uma determinada cidade, mas que deseja jogar em outra, ou ainda, que deseja outras contratações de profissionais para a comissão técnica, é uma característica peculiar do mundo do Futebol. Vejam que isso não acontece em outros ramos de atividade, apenas no futebol. Essa situação invertida de lógica administrativa faz com que me lembre do dito popular brasileiro de que "o rabo abana o cachorro".
Se o técnico não está confortável com o que lhe está sendo ofertado pode e deve se recusar a aceitar o cargo, mas de forma direta, dizendo que não está interessado, deixando de criar exigências descabidas para justificar o seu desinteresse. Porém, se o técnico faz essas exigências efetivamente, desejando assumir o time, este time deve se recusar a aceitar, posto que na nossa realidade um técnico fica em um clube de meia a duas temporadas no máximo.
Isso posto, fica claro que não é justo com a instituição que seja forçada a se curvar à imposições feitas por um trabalhador que será transitório. Essas exigências, as vezes, fazem o clube criar dívidas que deverão ser pagas no futuros por outras gestões. Além disso, essas solicitações, após sua passagem, via de regra, deixaram de ter importância, até porque o sucessor poderá ter desejos contraditórios e toda a mudança terá sido em vão. Assim, um clube pode e deve mudar, porém quando deseja, não quando a mudança lhe é imposta.